Por Charles Piriou
No final do ano 2014 fui conhecer um destino que me fascinava há tempos, Marrakesh. Estava indo a Paris para as festas de final de ano e aproveitei uma conexão da Royal Air Maroc – que começou voar para o Brasil há pouco tempo mas ainda não se organizou e não recomendo – para passar quatro dias em terras marroquinhas e conhecer melhor essa cultura cheia de cores e sabores.
Como muitos franceses, sempre ouvi falar muito do Marrocos, mas ao chegar eu senti uma forte sensação de ser mesmo um estrangeiro, mas um estrangeiro conhecido como “colonizador” com um certo passado que condena. Começa pela língua, pois ainda no Marrocos todos falam francês mas a língua oficial é árabe. Uma sensação estranha, confesso, que não deixou meu animo em conhecer Marrakesh se abalar em nenhum momento. Fiquei completamente apaixonado por esse lugar. Gostaria de ter ficado mais tempo para descobrir ainda mais.
Cada cidade no mundo tem algum hotel considerado também um monumento histórico. Em Marrakesh esse hotel se chama La Mamounia, um palácio e tanto.
No século 18, o que hoje é um imenso palácio eram lindos jardins acoplados ao centro da cidade que pertenciam ao sultão Mohammed Ben Abdellah e sua esposa Lata Fátima. O príncipe desenhou o jardim para seu filho Mamoun como presente de casamento. A idéia de construir um hotel surgiu por volta de 1920, e depois vários edifícios foram acoplados no que hoje é considerado um dos hotéis mais prestigiosos e luxuosos do planeta.
Ao longo dos anos, vários decoradores foram chamados para repaginar o hotel como por exemplo Jacques Majorelle e André Paccard, decorador do rei Hassan II. A última repaginação foi pensada por Jacques Garcia, que também decorou o famoso hotel Costes em Paris.
Winston Churchill convidou Franklin Roosevelt aqui para descansar após as negociações da Segunda Guerra Mundial. O cineasta Alfred Hitchcok filmou cenas de “O homem que sabia demais” aqui. Por seus corredores, saguões e suítes, também já passaram ao longo de quase um século, os Rolling Stones, Charlie Chaplin, Sharon Stone e muitos outros astros de Hollywood. A lista é longa, confesso que fiquei muito “orgulhoso” ao saber que durmi no mesmo hotel onde o General de Gaulle e Jacques Chirac, ambos presidentes da França… Se eu pudesse descrever minha estadia em algumas palavras, seria ter parado no tempo no meio de um palácio mágico.
Fui visitar o Jardim Majorelle, um dos jardins mais lindos do mundo. Yves Saint Laurent e Pierre Bergé descobriram o Jardim Majorelle em 1966, durante a sua primeira viagem para Marrakech. Eles ficaram sabendo que o jardim estava para ser vendido e seria demolido para construção de um resort. Em 1980 eles mudaram o destino ao comprar a propriedade, salvaram o maravilhoso projeto e decidiram restaurar e viver na casa do artista francês Majorelle, para construir o jardim dos seus sonhos e aproveitar uma fonte de inspiração sem fim.
O grande estilista Yves Saint Laurent aproveitou a tranquilidade, se inspirou, deu várias festas e aproveitou sua vida por lá. Depois da sua morte em Paris, suas cinzas foram espalhadas pelo jardim e foi construído um memorial. Até hoje seu companheiro mora aqui e os locais os descrevem como pessoas maravilhosas.
Um complexo sistema de irrigação automática que adapta a distribuição de água de acordo com as horas do dia e as necessidades específicas de cada planta foi instalado, no total são mais de 300. Uma equipe de 20 jardineiros trabalha todos os dias para manter o jardim, seus lagos e lindas fontes. O lugar também abriga um museu aberto ao público sobre a cultura árabe e também coleções pessoais de Yves Saint Laurent e Pierre Bergé estão expostas. Um delicioso e charmoso café e restaurante foi aberto e recebe os turistas do lugar mais visitado de Marrakesh. Em 2010, a rua em frente ao jardim passou a ser chamada Rue Yves Saint Laurent, e Pierre Bergé esteve na cerimônia que marcou a homenagem.
Para comer bem, o restaurante Dar Yacout é uma experiência única. Um jantar de rei, com tudo o que se tem direito. Prepare-se para comer muito, e muito bem. Você chega a noite no meio do souk e centro histórico de Marrakesh, é recebido por um charmoso senhor que mostra o caminho do petit palais… Muitos dirão que é um ponto turístico, e sem dúvida é, mas incontornável mesmo assim. Primeiro você toma um aperitivo ouvindo música típica e apreciando o ambiente, para depois subir e degustar vários pratos servidos generosamente e em grande estilo por garçons servidores a caráter… Sem dúvida vai lembrar pelo resto da vida desse jantar.
Conhecer a praça Jemaa El-Fna e a Medina é fácil quando você está hospedado no La Mamounia pois fica somente a alguns metros dalí. Passear nos souks e conhecer o mercado das especiarias é uma experiência única! Cuidado apenas com vendedores de rua as vezes um pouco insistentes, é sempre melhor ir acompanhado de um guia local que sabem os caminhos, atalhos e lugares a evitar.
De volta ao hotel depois de bater pernas, a boa dica é aproveitar a piscina com uma massagem no spá e claro tomar um refresco para revigorar o corpo, antes de voltar para realidade e fechar as malas…
Bon voyage!